ISAD(G), Conselho Internacional de Arquivos, 2. ed.
O Programa 'Certas Palavras' foi concebido em 1980, por iniciativa dos jornalistas Claudiney José Ferreira e Jorge Marques de Vasconcellos, e foi concretizado na forma de um programa veiculado em rádio e que versava sobre livros e ideias. O programa, que contava com uma produção independente, foi ao ar pela primeira vez em 21 de fevereiro de 1981, veiculado pela rádio Gazeta AM de São Paulo. Três meses após sua estreia recebeu premiação da Associação Paulista dos Críticos de Arte (APCA) e, nesse mesmo ano, o prêmio Jabuti. Recebeu o prêmio da APCA ainda outras quatro vezes (1982, 1989, 1991 e 1995) e o prêmio Jabuti outras duas (1982 e 1988). Em Julho de 1982 passou a ser veiculado pela rádio Excelsior de São Paulo, permanecendo no ar até 1983. Voltou ao ar cinco anos depois (1988), agora pela rádio Eldorado AM. A emissora passou por uma reformulação e passou a se chamar Nova Eldorado AM. Durante este intervalo de existência do programa, Jorge Marques de Vasconcellos dirigiu, entre 1985 e 1987, um programa da rádio Cultura AM de São Paulo, inicialmente chamado 'De Letras' e posteriormente teve seu nome alterado para 'De Letras e Artes', nesse programa, ele procurou alcançar os mesmos objetivos do 'Certas Palavras'. Em março de 1991, o programa 'Certas Palavras', que havia permanecido dois anos e meio no ar pela Nova Eldorado AM, foi novamente cancelado. Porém, em julho deste mesmo ano voltou a ser transmitido pela Excelsior AM, emissora que poucos meses depois fez parte do núcleo formador da Rede CBN Brasil. Há no acervo gravações do programa Certas Palavras realizadas até abril de 1996. O programa constitui-se fundamentalmente de entrevistas ou de perfis, de um escritor ou personalidade possuidor de alguma relação com o ambiente cultural nacional, além de debates, coberturas jornalísticas de eventos do mercado editorial, e eventuais entrevistas com autores estrangeiros. O programa ainda estabeleceu intercâmbios culturais com a veiculação de produções radiofônicas e estrangeiras, como os programas 'Livros e Autores', produzido pelo Serviço Brasileiro da Rádio BBC de Londres; 'Prisma Cultural' e 'Berlim com olhos sul-americanos', ambos produzidos pela Rádio alemã 'Deutsche Welle' e, 'Meridiano Zero', produzido pelo Ministério Britânico das Relações Exteriores.
Michel Lahud nasceu no dia 8 de setembro de 1949, filho de Bechara Lahud e Victória Arbid Lahud. Fez seu estudo primário e secundário na cidade de São Paulo, entre 1956 e 1967. Em 1968 iniciou a graduação na Universidade de São Paulo, estudando nos departamentos de filosofia e de psicologia. No ano seguinte, transfere-se para a França, onde continuou seus estudos de filosofia. Primeiramente na Université de Paris VIII, onde estudou com Michel Foucault, que o aconselhou a mudar para a Université de Provence, Aix-en-Provence, onde, orientado por Gilles Gaston Granger se licenciou em filosofia em 1972 e, no ano seguinte, recebe o título de mestre em filosofia com a dissertação 'Enquête autor de la notion de deixis'. Em 1974, retoma seus estudos na Universidade de São Paulo, ingressando no doutorado. No ano seguinte, entra para o quadro de docentes do Instituto de Estudos da Linguagem (IEL) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) como professor assistente do Departamento de Linguística. Em 1979 obtém o título de Doutor na USP e publica 'A propósito da noção de dêixis', tradução do mestrado que fez na França. Nesse mesmo ano, lança a tradução de dois livros que fez em parceria: 'Usos da linguagem' de François Vanoye (tradução e adaptação com Haquira Osakabe, Clarice Madureira e Éster Gebara) e 'Marxismo e Filosofia da Linguagem' de Mikhail Bakhtin (tradução com Yara F. Vieira). Entre 1978 e 1981, com uma bolsa de estudos da CAPES, faz estágio no Département de Recherches Linguistiques da Université de Paris VII e, entre 1981 e 1982, na Section 'Sémantique, Sémiologie et Linguistique' da Ecole des Hautes Etudes en Sciences Sociales (Paris). Nesse período, publica, em conjunto com F. Franklin de Matos, o livro 'Matei minha mulher: o caso Althusser' (1981). Entre 1976 e 1983, foi membro do comitê de redação da revista 'Almanaque: Cadernos de Literatura e Ensaio'. Em 1985, faz a conferência de abertura da 'Mostra Pier Paolo Pasolini', realizada no Museu da Imagem e do Som em Campinas, São Paulo. No ano seguinte, torna-se professor do Programa de Pós-graduação em Lógica e Filosofia das Ciências do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Unicamp e profere conferências no curso 'Os sentidos da paixão', promovido pela Funarte em quatro capitais: Rio de Janeiro, São Paulo, Brasília e Curitiba. Entre 1987 e 1988, com bolsa de estudos concedida pela CAPES, foi pesquisador no Fondo Pier Paolo Pasolini em Roma. Nessa estadia, participa como pesquisador convidado da mostra 'Pier Paolo Pasolini: um cinema di poesia', realizada junto à 'Mostra Internazionale del Cinema', em Veneza. Em 1989, quando retorna ao país, transfere-se do IEL para o IFCH, tornando-se professor assistente do Departamento de Filosofia. Em 1990 publica 'Os jovens infelizes: antologia de ensaios corsários' de Pier Paolo Pasolini; livro que traduziu com Maria Betânia Amoroso. Além das obras citadas, possui ensaios e traduções publicados em vários periódicos brasileiros e estrangeiros. Faleceu em 18 de dezembro de 1992. Fontes: LAHUD, Michel. Currículo (datilografado). 2 p.; FRANCHI, Carlos. 'O caminho de Michel Lahud'. Folha de S. Paulo, São Paulo, 17 jan. 1993.
Paulo Alfeu Junqueira Duarte nasceu na cidade de São Paulo, em 17 de novembro de 1899, filho de Hermínio de Monteiro Duarte e de Jovina Junqueira Duarte. Estudou no instituto Champagnat, no Ginásio de São Paulo e São Bento, no Externato Pereira Barreto e no Externato Alfredo Paulino. Diplomou-se em Direito pela Faculdade de Direito de São Paulo. Desenvolveu, ao longo de sua vida, as atividades de cronista, memorialista, ensaísta e tradutor, utilizando-se em suas obras de inúmeros pseudônimos, tais como Alfeu Caniço, Caniço Filho, Gabica Diniz e Tietê Borda. Ele foi um dos fundadores do Departamento Cultural da Cidade de São Paulo, da Universidade de São Paulo, e foi fundador da revista Anhembi, foi também político, professor, diretor de diversos jornais e revistas e membro da Sociedade Paulista de Escritores. Iniciou sua carreira no jornal 'O Estado de São Paulo' (1919), como revisor, foi repórter responsável pelas notícias sobre o governo e chegou ao cargo de editor-chefe, no final dos anos 40, além disso, participou de importantes episódios da vida política e cultural paulista, atuou na revolução constitucionalista e, por isso, permaneceu exilado por cerca de um ano, ajudou a articular a oposição ao Partido Republicano Paulista, engajando-se, junto com industriais emergentes, no Partido Democrático, exerceu também a função de consultor jurídico do prefeito de São Paulo e conseguiu-se eleger-se deputado estadual pelo Partido Constitucionalista. Em 1938, foi exilado pelo Estado Novo, condição que permaneceu até 1945, vivendo a maior parte do tempo na França. Em 1950, deixou o jornal e fundou a revista Anhembi, nesta revista abriu-se espaço para que intelectuais brasileiros e estrangeiros publicassem suas pesquisas acadêmicas, até 1962, quando ele foi obrigado a fechar a revista por razões econômicas. Durante a existência da revista, ele foi palco de embates com personalidades da política da época, como Adhemar de Barros e Getulio Vargas, ao mesmo tempo em que o jornalista causava polêmica devido a uma incompreendida amizade com Jânio Quadros. Ele desenvolveu ao longo de sua vida um grande paixão pela antropologia, paixão que foi despertada pelo professor Hermann von Hering, foi, também, discípulo de Paul Rivet, criador do Museu de l´Homme e quem estimulou Paulo Duarte a criar o Instituto de Pré-História. Entre suas amizades no campo das letras, foi amigo, entre outros importantes nomes, de Mário de Andrade, Érico Veríssimo e de Monteiro Lobato. Apesar de, ao que tudo indica, ter tido participação efetiva na criação da USP, não foi reconhecido como um dos fundadores da Instituição. Fundou, em 1962, o Instituto de Pré-História, que depois foi absorvido pela USP. Desenvolve também a atividade de professor universitário e, devido a suas aulas, foi responsável por muitas polêmicas, principalmente devido as criticas que fazia à situação interna do país no período da ditadura. Sua obra é composta por: 'Sob as arcadas' (crônicas), 1927; 'Agora Nós' (crônicas), 1927; 'Que é que há?' (pequena história de uma grande pirataria), 1931; 'Um conluio moral'(ensaio), 1934; 'Variações sobre a gastronomia' (ensaio), 1944; 'Prisão, exílio, luta' (política), 1946; 'Departamento de Cultura, vida e morte de Mário de Andrade', 1946; 'Palmares pelo avesso' (crônicas), 1947; 'Versos de Trilussa' (tradução), 1954; 'O espírito das catedrais' (memória), 1958; 'Paul Rivet por ele mesmo' (tradução), 1960; 'O resto não é silêncio...', 1965; 'O processo dos rinocerontes', 1969; 'Mário de Andrade por ele mesmo' (cartas, prefácio de Antônio Cândido), 1971; 'Memórias', 1974, 'Raízes profundas (2ª ed.)', memórias, 1975; 'Memórias: vou-me embora pra Pasárgada', 1979; 'Memórias n. 9: e vai começar uma era nova', [s.d.].
No dia 16 de março de 1978, o jornalista Sérgio Coelho, correspondente em Sorocaba do jornal 'O Estado de S. Paulo', procura o Prof. Zeferino Vaz, Magnífico Reitor da Unicamp, para comunicar a existência de uma comunidade negra no bairro do Cafundó, município de Salto de Pirapora, interior de São Paulo, que teria, entre outras, a característica de falar uma língua aparentemente de origem africana. Encaminhada a notificação ao Departamento de Antropologia do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, o Prof. Peter Fry houve por bem procurar os professores Maurizio Gnerre e Carlos Vogt do Departamento de Linguística do Instituto de Estudos da Linguagem, com o intuito de criar uma equipe interdisciplinar que pudesse esclarecer a situação, nos seus aspectos tanto sociais quanto linguísticos. Logo na primeira visita da equipe na comunidade, gravaram uma conversa que serviu como análise preliminar e, logo em seguida, encaminharam um projeto de pesquisa intitulado 'Os Negros do Cafundó: Linguagem e Comunidade' para a FAPESP que aceitou financiá-lo. Entre Cafundó, na região de Sorocaba, Patrocínio em Minas Gerais, Mogi das Cruzes, Itapetininga, Conceição da Barra (ES) realizaram durante o desenvolvimento da pesquisa um total de 65 visitas. Na maior parte destas visitas, foram realizadas gravações de entrevistas, onde se registraram histórias de vida, histórias das comunidades, incidentes de relevância, tais como brigas por terras, violência e morte, a significação social das linguagens, seus léxicos e estruturas. As demais visitas foram dedicadas à reconstrução da história documental das comunidades de Cafundó e Caxambú e, para tanto, foram realizadas pesquisas nos cartórios de Itapetininga, Sorocaba e Sarapuí, na Cúria de Sorocaba e no arquivo do Estado de São Paulo na cidade de São Paulo. Para o enfoque histórico contaram com a ajuda constante do historiador Robert Slenes, professor da Universidade Federal Fluminense. Os objetivos fundamentais da pesquisa foram, ao mesmo tempo, investigar as relações entre linguagem, cultura e organização social no contexto específico do Cafundó e procurar levantar elementos que pudessem contribuir para o estudo da história da população negra no Estado de São Paulo. Os resultados foram publicados parcialmente em diversos artigos e comunicações durante o desenvolvimento da pesquisa e, posteriormente, de forma mais ampla, no livro 'Cafundó: a África no Brasil - linguagem e sociedade'. Fonte: Documentos do Fundo - Cf. 01 e Cf. 13.